Você acha que a velocidade de mudança do mercado é rápida demais? Discutimos esse assunto com o Consultor de Inovação, Samuel Felicio. Acompanhe o bate papo conduzido por nosso CEO, Daniel Antunes.
Bate papo completo
Primeiramente eu quero agradecer a você, Daniel, e a todos da GoBacklog, por abrirem este espaço para mim. Como você falou, foi muito bom poder participar da Digital Mission, porque tive a oportunidade de conhecer não somente você, mas como outras pessoas que também me apresentaram um pouco mais do Mundo Digital, no qual eu ainda sou relativamente novo.
Depois de 32 anos trabalhando com gerenciamento de equipes de vendas e marketing, criando estratégias dentro de uma estrutura muito própria do século XX, em organizações extremamente mecânicas, eu comecei a perceber, o que eu chamo de “momentos de singularidade na carreira”.
Esses momentos me levaram a uma reflexão a respeito da minha vida profissional, e como eu me posicionava dentro dela. Eu trabalhei 26 anos em uma empresa líder no mercado, americana, e onde eu pude passar por diversas funções, no marketing, nas vendas e no gerenciamento dessas equipes.
Depois de escalar todas as possibilidades dentro daquela organização, eu decidi sair e ir atrás de um novo desafio, onde eu pudesse conhecer pessoas novas, vender outros tipos de produtos e ter contato com outros mercados. E foi aí que eu comecei a trabalhar em outra empresa, e permaneci por seis anos.
Durante o meu tempo dentro dessa organização, eu tive a oportunidade de trabalhar dois anos aqui no nosso país, cuidando da área comercial, no Brasil e América do Sul, e em seguida, recebi um convite para me mudar para os Estados Unidos e trabalhar em um setor que cuidava de toda a América Latina, e lá permaneci por quatro anos.
Por razões diversas, em 2017 eu decidi, junto à minha família, que seria melhor voltarmos a viver no Brasil. Foi aí que recebi uma terceira oportunidade, liderar uma equipe de vendas, no nosso país. Após um ano dentro dessa terceira empresa, ela foi vendida para os seus maiores concorrentes no mercado mundial, e, após a integração, no ano passado, eu decidi que eu deveria me desligar da organização.
Então o ciclo foi se encurtando. A primeira empresa na qual eu fiz parte, eu permaneci por 26 anos, na segunda, 6, e agora, na terceira, eu fiquei por somente 15 meses. Esses acontecimentos me fizeram pensar e refletir sobre o que estava acontecendo. São esses momentos que eu chamo de singularidades.
São essas singularidades que nos fazem pensar sobre a nossa vida profissional. Algo estava acontecendo, então eu me perguntei se eu deveria continuar a repetir meus antigos comportamentos ou se seria melhor eu me reinventar.
Nesse processo, eu decidi reinventar-me. Comecei a estudar novamente, busquei participar de diversas atividades, que acontecem constantemente, nos centros de incubação de empresas. Me envolvi com as Startups e busquei compreender um pouco mais do que é essa economia cooperativa e o que esse universo pode ensinar para um homem do século XX, como eu.
Então eu acredito que esse processo de transição nunca irá parar, pois ele é contínuo e necessário. Você não pode se acomodar e ficar estagnado em sua trajetória, por acreditar que já atingiu o topo, o máximo.
Foi neste momento que você sentiu que estava transformando o seu mindset, saindo do modelo Analógico para o Digital, se reinventando?
Exatamente. Mas aí vem uma pergunta, o que seria esse novo mindset? Me colocando em uma posição de descobrimento, de busca por meu lugar no mercado, eu faço um paralelo com algumas empresas atuais. Até mesmo grandes organizações, muitas vezes, negligenciam esses momentos de singularidade.
Eu, como falei, trabalhei mais de 30 anos tendo contato direto com empresas, fabricantes, distribuidoras e representantes. Eu tive contato com muitas pessoas, e o que eu pude perceber é que diversas empresas tem as mesmas reclamações, de que os ciclos de prosperidade estão se encurtando cada vez mais, e as vendas, quando acontecem, possuem um crescimento marginal, muito linearizado, margens decrescentes.
Muitos dos empresários que conheço e converso me dizem não saber o que acontece com suas equipes, que não se encontram mais motivadas e comprometidas com o que acontece na empresa. Uma vez, o dono de uma empresa na qual eu presto serviço, que possui um modelo totalmente característico do século XX, me disse que não se sente mais inspirado e nem com energia para fazer as mudanças que o negócio requer.
Então, quando vemos equipes desmotivadas, lideranças sem energia, vendas crescendo marginalmente e ciclos de prosperidade sendo encurtados, nós temos aqui sinais de singularidades. Esta é a hora que devemos repensar sobre a nossa jornada e decidir se iremos continuar a nos repetir ou nos reinventar.
E aí que você faz esse paralelo, essa mudança de mindset que você teve, e como que essas empresas que estão passando por esses mesmos problemas e essas mesmas dificuldades podem se reinventar
Uma empresa, seja ela do século XX ou do século XXI, e quando falo isso, me refiro ao nível de modernidade delas, estão estabelecidas em três pilares:
- Pessoas
- Processos
- Produtos
As pessoas sempre serão e continuarão sendo o elemento principal e o fator mais crítico dentro de uma organização, pois elas geram consequências diretas ao sucesso e ao fracasso de uma empresa.
A tecnologia você pode comprar e atualmente existe um excesso de capital no mundo, e você pode conseguir um investidor interessado em investir na sua empresa. Entretanto, se você não possui pessoas capazes de fazerem a diferença, todo o dinheiro e tecnologia presente na sua organização não serão capazes de te fazer alcançar o sucesso.
Então, atualmente, as pessoas estão sofrendo uma grande mudança, e neste sentido se encaixa o digital. Existe uma pesquisa recente que diz que 70% dos brasileiros já possuem acesso à internet, e que 65% das pessoas utilizam as redes sociais através do celular.
Quando as pessoas passam mais de nove horas navegando na internet, é como se um mundo, diferente do físico que vivemos, se formasse. É esse ambiente que as pessoas passaram a usar tanto para atividades profissionais, quanto para pessoais. Toda essa quantidade de dados, esse comportamento e acesso a informações impactam o nosso comportamento.
A internet e todo o ambiente digital está impactando as ações, os objetivos, os valores e a forma de ajuntamento das pessoas. E se isso está transformando a nossa vida, também transforma as empresas e a relação com os seus clientes. Porque, no final, o fator humano é que faz toda diferença.
Então, hoje, quando o comportamento das pessoas se modifica, os processos também são modificados. Quando eu comecei a minha carreira, há muitos anos atrás, com 13 anos de idade, como datilógrafo, existiam empresas que se achavam vitais, por fornecerem máquinas onde eu pudesse escrever.
Naquela época eu passava seis horas do meu dia datilografando, e se olharmos para o cenário atual, um jovem com 13 anos de idade, dificilmente iria querer trabalhar com uma atividade tão repetitiva e, até mesmo, bucólica.
A tecnologia veio para substituir e automatizar essas atividades, fazendo com que as pessoas tenham interesse em se ocupar com atividades inspiradoras e que reforcem os seus propósitos de vida.
Então, reforçando a ideia, quando ocorrem mudanças no comportamento das pessoas, os processos devem ser adaptados, para que possamos continuar criando e fazendo a diferença dentro das organizações. E, além disso, consequentemente, mudam-se os produtos.
Tem uma frase que diz que não existe produto, na verdade, todos nós compramos um serviço que tende a atender a uma expectativa, um desejo ou uma necessidade que nós temos. Portanto, a realidade é que estamos dispostos a pagar um determinado preço para nos satisfazer, e se nossas percepções de consumo se alteram através do Mundo Digital, as empresas devem se abrir para ele.
Que legal, e pegando um pouco do seu histórico, dessa mudança sua de mindset, do Analógico para o Digital, quais dores você acha que os empresários têm que você mais identifica e que eles passam nessa transição de carreira?
Eu acho que a maior dor que um empresário ou um executivo de uma empresa pode sentir é a de ter que se desapegar. Imagina, uma pessoa constrói, durante 30 e 40 anos da sua vida, uma história de sucesso. Uma jornada onde ela conquistou uma série de reconhecimentos e um espaço social interessante. E, de repente, uma mudança forte no mercado faz com que todas as coisas que foram conquistadas fiquem acidentadas.
Essas mudança afetam tanto o empresário quanto o executivo, pois é o momento que eles devem se desapegar dos processos construídos e transformá-los. É deixar para trás as histórias bem sucedidas e se abrir para o novo, voltar a aprender. É o ponto onde se deve esvaziar o copo e enchê-lo com um líquido novo.
E essa situação é terrível, pois é preciso ter habilidade e humildade para se desapegar. Por exemplo, quando trabalhamos em uma empresa grande, passamos a ser reconhecidos por ela. Nos tornamos o Daniel da empresa tal ou o Samuel da empresa Y, e com isso, criamos uma sensação de poder, por sermos vistos dessa maneira.
Passamos a pensar que esse reconhecimento é que nos faz conhecer diversos lugares, que nos permite comer nos melhores restaurantes ou viajar na primeira classe. As pessoas começam a acreditar que elas são o título que carregam e, se elas o perdem, conseguem perceber que, na realidade, elas estavam naquele título, mas que ele nunca foi delas.
Por isso, eu acredito que a maior dor de um empresário ou de uma empresa é ter que abrir mão de suas histórias de sucesso. Hoje, quando vamos na recepção de algumas organizações, ainda possui quadros com prêmios recebidos na década de 1990 ou no início dos anos 2000. São histórias de sucesso nas quais elas não conseguem se desapegar e, enquanto elas se manterem presas ao passado, elas não vão se abrir ao novo.
A maior dor da transição é você ter que se despir de todo o seu orgulho, de tudo o que você conquistou e do que acha que pode fazer, para se abrir a novos ensinamentos e ouvir outras perspectivas que os profissionais do Mundo Digital estão trazendo.
Tem uma frase que eu ouvi muito bacana que é o seguinte: “por trás de todo de todo CNPJ, existem CPFs” e muitas vezes a pessoa pensa e usa a inovação somente na empresa, mas ela precisa também se renovar, inovar em si próprio, isso faz parte de todos processo de inovação de Transformação Digital. Então não adianta você só querer mudar processos se as pessoas não mudarem, se as pessoas não buscarem o novo
O CNPJ é uma abstração, porque só o que temos, na verdade, são os CPFs. No livro Sapiens, o autor Yuval Harari fala muito claramente de como nós, Homo Sapiens, criamos realidades subjetivas.
As empresas, por exemplo, possuem diversos funcionários, que ao estarem lá dentro, se sentem parte de algo, mas tudo isso é uma abstração subjetiva, pois, fisicamente, o que existe dentro desses ambientes são pessoas e, são elas que agem como a alma das organizações.
Então, você deve entender quais são as novas aspirações e novos valores sociais. Durante muito tempo a sociedade negligenciou suas aspirações, comportamentos e desejos, e hoje, você vê o empoderamento desses grupos, que estão se mostrando e se apresentando. O mundo é muito mais diverso e complexo do que um sistema mecanicista no qual estávamos acostumados. Então, essas mudanças impactam os processos e produtos.
É verdades, elas impactam tudo. Agora pensa numa situação hipotética aqui: uma pessoa de 50 anos, diretor de uma grande empresa, como que ele pode preparar a empresa dele para esse cenário de inovação? Um cenário como o seu, como você se reinventou e o que você fala para essa situação, como uma pessoa nessa situação vai se preparar?
Nós estamos vivendo no momento das tribos e, recentemente, eu fui em um evento de Marketing de Engajamento, onde eu aprendi um termo totalmente novo para mim, traduzido pelo Valter Longo, o Perennials.
Nós falamos muito dos Millennials, que é essa geração mais jovem que já nasceu com maior acesso à tecnologia, mas agora também temos um termo que traduz as pessoas mais maduras e que estão envolvidas dentro desse Universo Digital. Muitas vezes essas pessoas são influenciadas por seus filhos ou netos, e mesmo representando 17% da população no Brasil, eles se encontram em 35% do poder de consumo.
Segundo uma pesquisa, apresentada pelo Valter Longo, os Perennials tem um poder maior de influência, sendo três vezes mais ouvido e respeitado naquilo que ele fala do que um Millennial. Talvez seja pela aparência mais madura, na qual julgamos possuir mais experiências.
Além disso, eles possuem uma maior capacidade de fazer amizades com diferentes gerações, sendo vistos como mais abertos a outras tribos, algo na qual os Millennials possuem dificuldade.
Eles possuem uma grande necessidade do agora, não pensando tanto em termos de passado e futuro. O que eu quero dizer com isso é que, muitas vezes eu encontro empresários e gestores que dizem não aguentarem mais e que querem se aposentar logo para morarem em um sítio ou em uma praia. E essas pessoas estão negligenciando o mundo no qual estamos vivendo, que possui uma tribo como a dos Perennials, por exemplo.
Um dado interessante é que, no século passado, a longevidade humana girava em torno de 35 e 36 anos. A sociedade possuía uma alta taxa de mortalidade infantil, uma saúde precária, uma grande ocorrência de guerras e pestes. Todos esses fatores influenciavam em uma baixa expectativa de vida daquele século.
Hoje, a longevidade humana mais do que dobrou, girando em torno dos 75 anos, e tudo isso em um século. Isso se deve muito ao desenvolvimento da penicilina, da diminuição de guerras e um combate contra as causas da mortalidade infantil.
E, atualmente, os cientistas acreditam que através do sequenciamento genético, e os avanços da farmacologia e medicina, nós iremos conseguir dobrar a nossa expectativa de vida, chegando em 150 anos ou mais, até o final do século.
A maioria das pessoas que hoje possuem 50 ou 60 anos, como eu, estão pensando em resistir mais cinco anos na zona de conforto, fazendo o que não gostam para conseguirem se aposentar. Essas pessoas ainda possuem chance de viver mais 50 anos, e isso é muito tempo.
Mesmo com toda a economia que eles fizeram e todo o investimento em fundo de previdência privada, eles não vão conseguir manter o padrão de vida que eles possuem hoje nos próximos anos de vida, e nem sequer conseguirão pagar os avanços que a medicina irá trazer para o aumento da longevidade humana.
Então não podemos tomar uma postura reativa, dizendo que não queremos saber ou que essas mudanças só irão afetar nossos filhos e netos. Durante muito tempo os Perennials terão que gerar recursos e riquezas, participando, principalmente, desse processo de mudanças que nós estamos vendo na humanidade e nos negócios.
Muito boa essa analogia. E puxando um pouco para o lado das inovações transversais que a gente tem visto, hoje podemos ver que as inovações estão sendo transversais, você pega a Rappi, a Apple, que está começando no mercado de conteúdo e games, e agora também virou uma fintech. Manter essa inovação como algo acontecendo dentro das equipes, já não faz mais sentido. E a gente aqui da GoBacklog acredita muito na Inovação Aberta. Você tem visto uma abertura das empresas, em especial as de menor porte, para esse tipo de inovação hoje?
Eu gosto muito de usar a física, e ela por muitos anos foi chamada de ciência natural, e eu ainda hoje acredito que a através da física, a gente acaba trazendo muitos conceitos que são aplicáveis para o nosso mundo de hoje.
Então, eu tenho visto esses movimentos, mas a resistência maior, e pode parecer paradoxal, mas a resistência maior é das grandes empresas. Talvez porque elas tenham muita massa, muito volume, uma inércia muito maior. Porque para a pequena ela sempre teve como característica, desde sempre, a tática de guerrilha e o foco em sobrevivência.
Então as empresas pequenas ou menores, por definição, elas tendem a ser mais flexíveis, mais rápidas, mais ágeis nas suas tomadas de decisão porque elas precisam sobreviver. Elas não podem se dar ao luxo de queimar toda a gordura que uma empresa grande tem para queimar. Então o que eu falei no princípio, se os ciclos são muito curtos para uma empresa grande, mas elas têm muita massa para poder queimar e gordura, numa empresa pequena, se deixar reduzir muito o ciclo é a morte total, não tem jeito, então pelo que eu vejo elas são mais ágeis.
Eu vejo mais resistência nas grandes, e essa resistência está ligada também ao que eu falei antes, a uma negação, ou uma certa miopia, dos sinais de singularidade. Hoje existe um termo que estão muito em voga, que a gente chama do mundo do VUCA, todo mundo ouve falar e fala muito do VUCA.
Ele é uma acrônimo em inglês para Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity. Então você fala de Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. Como você navega em cima dessas forças que são as forças do nosso momento? Então vamos falar da Volatilidade, eu tenho na Volatilidade 2.5 quintilhões de dados sendo gerados a cada dia, e esses são dados oficiais do ano de 2018.
Fica até difícil a gente calcular o que significa 2.5 quintilhões de bytes por dia. Esse número até 2025 vai ser multiplicado por 10, porque você vai entrar com o IOT, e em 6 anos nós vamos ter mais de 50 bilhões de dispositivos ligado no IOT. Hoje está totalmente offline, e cada IOT ligado no seu escritório ou na sua casa, vai estar emitindo dados, e vão ser analisados e criticados e vão gerar novos produtos, novos processos e novos serviços.
Então, o impacto que eu to falando, em termos de velocidade, não dá tempo, o que você aprende hoje, amanhã já pode ser velho, você não pode ficar parado. Quando a gente fala da incerteza, a incerteza nós estamos tomando até da Física Quântica. Um dos pressupostos dela é que você nunca tem certeza de nada, porque você tem a estrutura da matéria, um elétron, você não pode assegurar que elétron está naquela posição.
Porque sempre trabalhamos em região de probabilidade, portanto se você tem um mundo de probabilidade, até que um fenômeno ocorra, tudo o que nós temos são probabilidades, nada é certo. Então, imagina eu, um profissional do século XX, que saia fazendo budget e forecast, e que a empresa e a alta gerência, exigir que você crescesse 2 ou 3% de forma linear, praticamente desconsiderando o 1%. O mundo não pode ser enquadrado dentro de X e Y, o mundo é muito mais complexo do que isso.
As empresas tinham um pensamento totalmente incremental, linear, em que tudo tem que estar certo, sendo que o mundo é incerto. Por isso que as empresas digitais e as novas, crescem exponencialmente, porque elas já tem um outro mindset e um outro pensamento, aí você vai para a complexidade.
Pessoas hoje são mais complexas, os segmentos são mais complexos, quando você faz hoje uma pesquisa etnográfica, ela não te diz muita coisa, porque você saber que pessoas de 60 anos gostam de fumar charuto, isso é você tentar transformar uma realidade complexa, em dois eixos X e Y, sendo que você tem muitos eixos ortogonais para caracterizar e definir um grupo de pessoas.
E a ambiguidade para as empresas é total, talvez o seu grande concorrente esteja nascendo nesse momento em alguma garagem em algum lugar do mundo e que você não sabe nem onde está. Então, as empresas, tinham naquele modelo do Porter, você avalia as forças da indústria, mecânica legal que ajudou muito a gente a chegar até aqui. Mas hoje o que acontece, hoje, essa velocidade, essa incerteza e esse nível de complexidade, faz com que uma empresa ao mesmo tempo possa ser o seu cliente, o seu fornecedor ou possa ser o seu cliente.
Então esse pode ser um processo muito violento, e acredito que nunca na história da humanidade nós passamos por algo similar a isso, então todo mundo tem que estar atento e forte a todo momento. Não adianta você ficar preso a suas grandes histórias e conquistas de sucesso do passado, porque pode um concorrente que você nem imagina estar surgindo em algum lugar do mundo e é um concorrente que dentro de algum tempo não vai prejudicar o seu negócio, ele vai destruir por completo o seu negócio.
Eu acho que ficou muito claro aqui sobre o mercado, como ele está grande e competitivo e de como as pessoas precisam se reinventar, tanto as pessoas, quanto as empresas
Com certeza, as empresas que são atentas aos movimentos de singularidade, aquelas que estão atentas a isso, elas já começaram a criar estruturas separadas da estrutura atual que podem reinventar por completo o próprio negócio. A metáfora que eu uso é a da bicicleta de duas rodas.
Você tem uma roda que é responsável pela tração, onde fica a catraca e a corrente, para justamente colocar em movimento a bicicleta, mas você tem aquela dianteira que é de condução, e ela vai te levar para os caminhos. Se você só é a roda da tração, você não sai do lugar, porque você precisa de algum movimento se você não tiver a condução para onde ir.
Existe um ditado grego antigo, e ele dizia que nenhum vento é bom para quem não sabe para onde está indo. Então, se você tirar da minha roda dianteira, você não vai para lugar nenhum. Nós tivemos a oportunidade no Digital Mission, visitando algumas, você percebeu que algumas empresas criam laboratórios.
Embora sejam parte da mesma empresa, eles têm estruturas totalmente diferentes, porque talvez o objetivo maior desses laboratórios é conduzir a empresa para o novo que vem por aí, enquanto a estrutura original continua gerando tração para colocar a bicicleta em movimento.
Queria te agradecer por esse bate-papo, tem um tempo que a gente vem querendo fazer essa conversa e acho que vale para todo mundo que está vendo esse vídeo, porque realmente a gente trouxe conteúdo bem interessante em relação a toda essa inovação aberta e todo esse papo de sair do Analógico para o Digital
Eu agradeço mais uma vez a você e à toda a equipe da GoBacklog pelo espaço. Eu queria terminar minha participação deixando para vocês um pensamento, gosto muito de usar as metáforas, porque elas trazem algo que é conhecido, e fazem você refletir sobre todas essas questões.
Existem três tipos de pessoas, aquelas que entendem, as que resistem e aquelas que nem sabem o que está acontecendo. E eu vou caracterizar essas pessoas ou empresas com três metáforas muito simples.
A primeira que eu vou usar é do Aikido. As pessoas que de alguma maneira, já tiveram envolvimento com lutas marciais, já lutaram, já estudaram a respeito, sabem que o Aikido é um sistema de defesa pessoal e que ele exige observação total da área onde você está.
Na medida em que você sofre o ataque, seja manual, seja com uma arma branca ou um pedaço de madeira, seja o que for, na hora em que você recebe um ataque, ao invés de você resistir, você usa aquela força contrária que está vindo te atacar, de modo que você possa desequilibrar seu oponente e usar aquilo como um contragolpe a seu favor.
É o mesmo efeito da cama elástica. Se você pular, de uma altura em que você caia em um chão que é duro, rígido e resistente, provavelmente você vai quebrar as pernas ou vai morrer. Se você estiver caindo sobre uma cama elástica, ela vai usar aquela energia cinética e vai transformar em um salto de volta ainda mais alto do que aquele que você deu.
Então, existem as pessoas e empresas que entendem o ambiente e usam o conceito Aikido para aprender usar essas forças e usá-las a seu favor, mas existem aquelas que resistem.
Essas que resistem, são como sapo em água fervente.Talvez você conheça também essa metáfora, mas o organismo do sapo não consegue identificar pequenas alterações de temperatura. Se você colocar um sapo em uma panela com água e colocar no fogão, o sapo vai continuar parado dentro da panela com água, porque o organismo dele não consegue perceber que a temperatura está subindo e, a cada minuto que passa ele continua tranquilo, em sua zona de conforto, até o momento que a água chega em cem graus, e começa a entrar em ebulição.
Aí que o sistema do sapo informa: “olha, pode pular da panela que aqui está muito quente”, mas quando ele tenta pular, já é tarde demais, porque o calor da água simplesmente já derreteu sua pata e sua pele, ele está morto na panela e não consegue mais reagir. Assim são algumas empresas e pessoas que ficam resistindo, resistindo e resistindo, não observam os pequenos sinais e os movimentos de singularidade. Quando elas tomarem a decisão de dar o pulo, talvez seja tarde demais.
E por último, as pessoas que nem sabem o que está acontecendo. Pra mim não tem melhor metáfora do que os dinossauros. Até cerca de 70 milhões de anos atrás, os dinossauros eram talvez a maior população de seres viventes na face da terra. Eles acordavam todos os dias de manhã com suas famílias, comiam com suas árvores, frutas silvestres.
Bebiam a água do lago, que estava lá preservada, fugiam dos predadores, existia sempre um predador maior ou outro e eles repetiam essa rotina a todo tempo, achando que aquela situação era a que lhes bastava.
Tinha todo o ecossistema ali, pronto para viverem, e eles não estavam preocupados com mais nada. Só que um meteoro se aproximava, e quando chocou com a Terra, por muitos e muitos meses, talvez anos, a luz do Sol ficou bloqueada. Subiu uma poeira muito grande e densa e bloqueou a luz solar da Terra, impedindo assim a fotossíntese.
Com isso, as árvores e a vegetação que havia, acabaram morrendo, e os dinossauros que eram herbívoros, não tinham mais o que comer e acabaram morrendo. Morreram também seus predadores, já que não tinham mais dinossauros para comer. E no final, a vida na Terra teve que se reinventar completamente há 65 milhões de anos, depois de ser completamente extinta.
Simplesmente porque lhes faltavam naquele momento inteligência, telescópio e tecnologia, para poder entender que um meteoro se aproximava, e criar um plano de contingência para evitar a destruição. Então, hoje, existem pessoas e empresas que têm um comportamento muito similar, mesmo tendo avisos, livros, workshops, e diversas pessoas informando desse meteoro que está chegando, cada vez mais próximo dessa nossa sociedade.
Mas as pessoas continuam ignorando, não querendo saber o que está acontecendo e elas estão correndo um grande risco. Não um risco de serem prejudicadas, mas o risco de extinção total. Extinção moral, como profissional e como poder criativo.
Por isso, eu deixo essa mensagem, me coloco à disposição para conversar, ajudar e trabalhar em parceria com vocês, para que a gente possa alertar, através dessas conversas totalmente provocativas, as empresas, para que elas não tentem agir como um sapo com água fervente, e nem como os dinossauros que já foram extintos.
Links para Leitura
- Laboratório de Inovação: Por que a sua Empresa deve ter um | Conversando com o CMO
- 13 TEDs sobre Inovação e Tecnologia que você precisa assistir
- 11 cursos sobre Inovação para você alavancar seus conhecimentos