A ideia de montar o seu próprio negócio é muitas vezes romantizada, como se qualquer pessoa que decidisse abrir uma empresa fosse alcançar o êxito de forma fácil. Isso é natural, nós contamos as histórias que deram certo, e não as que fracassaram, dessa forma, é mais comum se espelhar naquilo que é grandioso e nos empresários que obtiveram sucesso.
Entretanto, o caminho do empreendedorismo pode ser muito mais conturbado do que o que nós idealizamos. O mercado nem sempre responderá como o esperado e o crescimento da empresa não será linear a todo momento, podendo chegar a nunca acontecer como esperamos.
De 10 Startups que nascem, 9 falham, e existem diversos motivos para isso, que muitas vezes, vão além de um marketing poderoso e um alto planejamento. Até mesmo os empreendedores mais metódicos estão sujeitos a viverem momentos de incertezas e instabilidade dentro do seu negócio.
Por esse motivo, é preciso saber que empreender é uma montanha russa, e você deve apertar seu cinto, para se preparar para essa jornada. Podem vir a existir momentos de alto crescimento, outros que podem fazer você duvidar da existência do negócio, mas se você souber conduzir crises e souber aproveitar as oportunidades, a sua Startup pode ser uma entre os 10% que sobrevivem.

Colchões de ar e muito foco
Como sabemos, as ideias podem nascer de formas variadas, a partir da observação de um setor do mercado ou até mesmo pela necessidade. No caso da Airbnb, a empresa nasceu pela última forma, já que seus fundadores, Brian Chesky e Joe Gebbia, começaram a alugar diárias em seu apartamento para conseguir pagar o aluguel no final do mês.
O projeto, primeiramente, foi chamado de Air Bed & Breakfast, já que tudo começou com três colchões de ar e com um café da manhã que eles davam aos hóspedes. As três primeiras pessoas que se hospedaram no serviço surpreenderam os dois estudantes, pelo perfil variado que elas possuíam, um pai de família, um indiano e uma mulher de meia idade. E foi assim que eles perceberam que investir nesta ideia poderia valer a pena.
Desde 2007, o projeto do Airbnb já passou por diversas situações diferentes. O início foi difícil, e a empresa não crescia. Foi necessário total dedicação e busca por investidores, já que os sócios não possuíam capital para dar início à Startup. Eles embarcaram até mesmo na venda de cereais em caixas personalizadas das eleições presidenciais de 2008, para conseguirem levantar fundos para a empresa.
Eles conseguiram vender, aproximadamente, 1000 caixas, levantando cerca de U$30.000 para investir no projeto. Entretanto, o site da empresa não conseguiu ter tanta tração inicial, obrigando os fundadores a viverem com o resto da receita da venda dos cereais. Brian Chesky, CEO do Airbnb, considera esse momento como um dos piores de sua carreira.

O interessante de salientar esse início é perceber que existiram diversos motivos para fazer Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk, que entrou por último na sociedade, desistirem de investir nessa ideia. Eles eram estudantes, que não possuíam nenhum capital para prosseguir com o projeto.
Foi preciso muito foco e dedicação para fazê-lo crescer, buscando investidores e até batendo de porta em porta, das casas registradas pela plataforma em Nova York, para tirar fotos mais bonitas e chamativas das acomodações, buscando melhorar o número de hospedagens.
Hoje, o Airbnb pode ser visto como uma das grandes empresas do século XXI, tendo seu nome virado verbo e sinônimo de inovação, assim como a Uber. Eles estão presentes em 191 países e 81 mil cidades, com as mais variadas acomodações, quartos, casas na árvore e, até mesmo, castelos.
E mesmo sendo uma empresa consolidada, ela não está longe de riscos e de crises. Por exemplo, no ano passado, houveram alguns problemas de questões legais com a plataforma. A cidade de Miami Beach começou a fiscalizar os apartamentos alugados através do Airbnb, já que o município proíbe a locação de residências por menos de seis meses e um dia em bairros residenciais.
E em 2018, o Conselho da Cidade de Nova York, o maior mercado doméstico do Airbnb, ameaçou sancionar uma lei de regulamentação da chamada economia compartilhada, o que poderia fazer com que a plataforma perdesse mais da metade de seus usuários nesta localidade.
O projeto de lei tinha como objetivo evitar que proprietários e inquilinos alugassem seus apartamentos ou casas para turistas por menos de um mês, pois, segundo as autoridades, isso estaria alimentando uma crise imobiliária. Entretanto, mesmo depois de brigas e acusações, um Juiz Federal bloqueou a implementação dessa lei, um alívio para os proprietários e clientes do Airbnb.
Dessa forma, podemos perceber que o mercado é incerto, e existem diversas variáveis que podem influenciar no crescimento de diversas empresas de diferentes ramos. Por este motivo, empreender é realmente uma das coisas mais difíceis que existem, pois você deve estar preparado para lidar com as situações adversas que irão se formar diante do seu negócio.

O que fez o Airbnb se destacar?
Alugar quartos e acomodações não foi algo descoberto pelos fundadores do Airbnb. Isso já acontecia em Craigslists pela internet afora, mas o processo não era transparente e seguro. Então, podemos dizer que o que fez com que a Startup se destacasse, foi sua aposta em uma plataforma própria, buscando facilitar e tornar a locação do imóvel mais segura para o locatário e locador.
Em uma entrevista ao Allentrepreneur, Joe Gebbia, um dos fundadores da empresa, conversou sobre o desenvolvimento de um site próprio, que foi feito ainda quando o projeto era Air Bed & Breakfast, e só visava fazer a locação do seu próprio apartamento:
Não queria publicar no Craigslist pois achava muito impessoal. Nosso instinto empreendedor falou mais alto e disse – construa seu próprio site – e foi o que fizemos.
Isso mostra a necessidade de se investir em ativos tecnológicos para se obter sucesso no meio empresarial. A ideia do Airbnb pode ser vista como simples, uma pessoa que possui uma propriedade e deseja alugá-la para alguém que precisa durante viagens, mas sem uma plataforma própria e a facilidade de locação que nos é proporcionada, ela não valeria de nada.
Além disso, o que podemos perceber é que, mesmo com todas as adversidades que foram surgindo, principalmente no começo de toda criação da Startup, os seus sócios se mantiveram firmes, apostando na ideia e em todo o projeto que estavam construindo.
No vídeo que postei acima, Brian Chesky fala sobre as dificuldades que eles passaram durante os primeiros dois anos de empresa, e como ele acordava todos os dias se perguntando como ele estava naquela situação e como faria para sair dela. E mesmo com tudo isso, ele permaneceu apostando que o Airbnb daria retorno algum dia.
Empreendedorismo verde e amarelo
Embora seja gratificante, ser empreendedor não é uma tarefa fácil. A realidade é que todo o processo de busca por reconhecimento do seu projeto e da sua ideia, pode ser muito estressante, frustrante e cansativo. Como disse Tamara Monosoff, empreendedora e autora de livros, em um artigo da Entrepreneur:
[..] ser um empreendedor não é a carreira fácil e despreocupada que muitos acreditam que seja; na verdade é exatamente o oposto. Quando tudo é investido em seu próprio negócio – tempo, dinheiro, paixão e criatividade – pode se aproximar da obsessão.
Me arrisco a dizer que isso se intensifica em países como o Brasil, onde há uma maior burocratização dos processos de abertura de um negócio e uma economia emergente.

Um exemplo brasileiro, que podemos usar para compreender o cenário do empreendedorismo e suas dificuldades, é a TAG: Experiências Literárias, uma empresa que começou em 2014, passou por um início conturbado e difícil e que hoje, consegue faturar cerca de R$ 26 milhões.
A ideia da empresa surgiu através da paixão de três amigos, que resolveram dar aos antigos clubes do livro uma cara mais nova e atual, transformando a experiência dos leitores em algo mais agradável e confortável. Podemos dizer assim que o modelo de negócio é um clube de assinatura, que embora seja antigo no mercado, se diferencia por ser voltado à literatura, algo que não existia até então.
Entretanto, embora seja uma ideia atrativa, quando o negócio começou, eram 65 assinantes e, seis meses depois, eles só conseguiram aumentar as assinaturas em cerca de 53%, tendo ao total 100 associados. Isso é um crescimento muito ruim, tendo em vista o tempo de empresa e o preço que era demandado para a produção das caixas e livros que eram enviados.
Os fundadores tentaram diversas ações para tentar elevar o crescimento da empresa, fechando contratos com livrarias, feiras do livro e, mais tarde, por não possuírem um alto capital que poderia ser aplicado em estratégias de marketing, eles optaram pela produção de conteúdo para mídias sociais e parceria com youtubers voltados ao público leitor.
Os esforços foram recompensados e, no final de 2015, eles conseguiram elevar o seu número de associados para 1500 pessoas. Hoje, o número de assinaturas já ultrapassa os 30 mil, e a TAG: Experiências Literárias, já está em cerca de 1500 cidades brasileiras.
Em uma palestra no TEDx, Arthur Dambros, um dos fundadores da empresa, contou à plateia como o caminho do empreendedorismo pode ser difícil, e como ele começou e enfrentou as dificuldades. É interessante que ele ressalta que só foi receber o seu primeiro salário, proveniente da TAG, três anos depois, e que seria uma quantia baixa, que ele descreve como sendo de estagiário.
O que aprendemos com a TAG?
É interessante perceber como a TAG, uma empresa voltada para o setor literário, consegue atingir um sucesso em uma década de crise das livrarias. O que fez ela se destacar, foi a inovação, através da mudança do trajeto entre livros e leitores e a experiência valorosa que seus assinantes recebem.
Gustavo Lambert, um dos fundadores da empresa, contou ao Estadão, um pouco sobre a sua experiência nesse mercado literário e a percepção que ele tem da demanda por livros na sociedade brasileira e a crise enfrentada pelas livrarias:
Ainda vemos grande demanda por livros. […] O contato com nossos leitores rompe a lógica historicamente praticada pelas editoras, que viam as livrarias, e não o leitor, como seus clientes. As dificuldades da Saraiva e da Cultura vão obrigar as editoras a mudarem de pensamento.
Além da inovação de trazer um clube de assinatura para dentro do cenário literário, eles criaram um aplicativo, semelhante a uma rede social, que dá a oportunidade de seus assinantes discutirem os livros que são enviados mensalmente. É uma experiência de imersão, totalmente atual, que faz com que os clientes da TAG sintam-se pertencentes e fidelizados.
O reflexo desse engajamento pode ser visto nos mais de 20 encontros que acontecem mensalmente em diversos estados do país, organizados pelos “Taggers” (apelido dado aos assinantes do clube). Isso é algo que vem ganhando a notoriedade nos negócios atuais, a preocupação em gerar valor ao público.
Conclusão
Quem decide ser um empreendedor, vive em um caminho de incertezas, sem saber se os riscos que ele está assumindo darão frutos e se transformarão em negócios de sucesso. É um exercício diário de aprendizados, tanto do campo estratégico e empresarial, quanto do comportamento humano e de você mesmo.
Ao perguntar ao nosso CEO, Daniel Antunes, sobre como ele se sentia sendo empreendedor, ele me respondeu:
Três anos depois de decidir empreender, eu continuo me achando no primeiro minuto do primeiro tempo do jogo. São intermináveis os estudos e estratégias. Empreender nunca foi e nem será fácil, pra quem quer alcançar grandes resultados.
Se você sente a vontade de empreender, e vê o empreendedorismo como uma forma de se expressar e trazer algo de valor aos outros, terá que aprender que existirão diversos momentos de incertezas e dificuldades, mas outros gratificantes e cheios de sucessos.
O título deste texto expressa muito bem o significado de se tornar um empreendedor. Apostar em uma ideia, dar início a um negócio é, realmente, se aventurar por uma montanha russa, onde terão altos e baixos, mas o final é sempre gratificante e estimulante. Afinal, é sempre possível extrair algo de positivo.