Se você tem interesse em empreender, com certeza já ouviu falar sobre as Startups Unicórnio. O termo cunhado em 2013, por Aileen Lee, investidora em capital de risco e fundadora da Cowboy Ventures, diz respeito às empresas emergentes de tecnologia, com capital fechado, que são avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais.
O termo se tornou o queridinho das Startups e muitos empreendedores se conectaram com essa ideia, como se o seu maior foco fosse se tornar um Unicórnio. Entretanto, esse caminho é bem mais complicado do que aparenta ser, e somente ter uma boa ideia, muitas vezes, não é suficiente para se tornar uma empresa bilionária.
Além disso, esse termo gera muitas contradições e discussões, principalmente pelo capital especulado no valuation dessas empresas. Isso porque a avaliação pode ser influenciada por fatores externos, como a disposição de um investidor a adquirir uma parte de determinada empresa, o que pode tirar a exatidão dos cálculos.
Por esse motivo, é necessário compreender como surge um Unicórnio, como as empresas conseguem atingir este patamar e qual o valor disso. Porque, mesmo que esta seja a sua meta, você precisa olhar toda essa construção de uma maneira muito crítica, pois a realidade empreendedora pode ser bem mais difícil do que parece.

O nascimento do Unicórnio
Como dito anteriormente, um Unicórnio é uma Startup que possui um valuation de US$ 1 bilhão ou mais. Entretanto, para chegar a esse número, é feito uma avaliação dessa empresa, que pode ser através de diferentes metodologias, e é necessário buscar aquela que mais se encaixa no modelo de negócio que será avaliado.
Os três tipos de Valuation são:
- Avaliação contábil ou patrimonial: Cálculo feito entre os ativos e passivos da empresa
- Avaliação por múltiplos ou valor de mercado: Comparação com empresas que possuem modelos de negócio similares
- Fluxo de caixa descontado: Projeção das receitas futuras da Startup baseada no histórico de fluxo de caixa da empresa
Todas as três metodologias possuem prós e contras. Como por exemplo, se sua Startup for iniciante, o fluxo de caixa descontado pode não ser a melhor opção, visto que ela não possui um histórico, e fazer a previsibilidade do caixa não será possível.
Já a avaliação por valor de mercado pode ser complicada para as Startups, pois, em tese, elas são empresas inovadoras e que não possuem semelhantes dentro do mercado. E a avaliação patrimonial pode ser ainda mais difícil, já que, em sua maioria, seus ativos são tecnológicos e, logo, não são fáceis de serem quantificáveis.
Por este motivo, esses cálculos podem ser bastante incertos, pois, se avaliarmos uma mesma empresa usando essas três diferentes metodologias, iremos obter diferentes valuations.
Além disso, existe a influência de fatores externos. Um empreendedor quer que sua empresa seja avaliada da maneira mais alta possível, e o investidor pode ter um grande interesse neste modelo de negócio, oferecendo um valor muito alto para que consiga participar daquele empreendimento.
Tudo irá depender da situação que essa empresa se encontra e do potencial que os investidores acreditam que ela possua. Por este motivo, existem tantas discussões acerca do assunto, pois não é um cálculo exato e muito dinheiro é especulado dentro dessas avaliações.
No vídeo acima, do Finanças 101, eles explicam os três métodos de avaliação de empresas de uma forma clara, mostrando as vantagens e desvantagens de cada método.
Síndrome da Betina
Alguns empreendedores, quando começam no universo do empreendedorismo, se apegam a ideia de se tornarem um Unicórnio, como se existisse um passo a passo para transformar a sua empresa pequena em uma que vale 1 bilhão de dólares.
Aliás, se você procurar na Internet “Como se tornar um Unicórnio”, você vai encontrar diversos textos que tentam trazer essa receita para você. O problema, é que são passos totalmente genéricos e que se fazem presente na jornada de qualquer empreendedor que queira fazer com que seu negócio se consolide no mercado, o que não garante que ele seja avaliado em 1 bilhão de reais.
É preciso compreender o porquê essas empresas se tornaram tão valiosas, em qual momento elas estavam e o tipo de serviço que elas prestam. Isso irá te ajudar a perceber que houveram fatores que culminaram para isso acontecer, e que as vezes, replicar essas situações será quase impossível.
Vamos observar, por exemplo o sucesso da Uber, uma das primeiras Startups Unicórnio que apareceram, tendo sido fundada em 2009. Primeiramente, os milionários, Travis Kalanick e Garrett Camp, criaram a Uber pensando em se tornar uma espécie de táxi de luxo, oferecendo carros como Mercedes-Benz S550 e Cadillac Escalade.
Embora fosse específico para um certo público, geralmente pessoas com um maior poder aquisitivo, já que o serviço era mais caro do que o de um táxi, a Uber conseguiu atingir determinado sucesso. Isso foi devido à sua plataforma, que gerava um conforto maior ao cliente, que poderia chamar um motorista e pagar pela corrida, dentro do próprio aplicativo.
A praticidade e o pioneirismo, fizeram a Uber se destacar. Mas se seu serviço não fosse abrangente, e continuasse servindo somente para pessoas mais abastadas, dificilmente ela se tornaria o sucesso mundial que é hoje. Eles souberam aproveitar as oportunidades, e em 2012 lançaram o UberX, onde proprietários de veículos poderiam oferecer seus serviços para o público em geral.
Isso barateou as corridas e fez com que a Uber se tornasse parte do dia a dia das pessoas como um todo. Seu nome acabou se tornando verbo, a famosa “uberização” das empresas, e atualmente, seu modelo de negócio é inspiração para diversos outros.
Entretanto, embora seja glamurosa a ideia de desenvolver uma empresa como a Uber, é preciso analisar a sua trajetória de forma crítica, e perceber os fatores que fizeram com que ela se tornasse o que é hoje. Aliás, seus fundadores já eram homens de negócios, e quando ela foi criada, eles haviam acabado de se tornar milionários, com a venda de outras empresas.

Eles já possuíam um caminho dentro do empreendedorismo, e sua empresa recebeu os investimentos necessários para se expandir para outras cidades dentro dos EUA e, depois, para outros países. Aliás, uma das pessoas que acreditaram na ideia deles foi o famoso investidor de risco, Chris Sacca, que tem um patrimônio líquido de cerca de US$ 1,2 bilhão.
A ideia da Uber atende um mercado amplo, recebeu grandes investimentos e foi pioneira. Ela estava no lugar certo e na hora certa. Isso não tira o crédito do trabalho de excelência que seus fundadores e administradores fizeram, mas as situações foram favoráveis, e se você criar um aplicativo semelhante ao Uber, que não apresenta nada de diferente, agora, você não vai conseguir atingir o mesmo sucesso.
Quero mostrar a você que não tem como transformar mil em 1 milhão da noite para o dia. E se seu objetivo é, realmente, se tornar uma empresa grande, como a Uber, você terá que correr atrás dos investimentos certos e criar as conexões e contatos que poderão te impulsionar dentro do mercado.
Isso não é impossível (mas é difícil). No meu texto, Apertem os cintos: empreender é uma montanha russa, eu trouxe a história da Airbnb, e como seus fundadores, estudantes que não possuíam dinheiro para pagar o aluguel, conseguiram erguer uma das maiores empresas da atualidade.
Mas não podemos esquecer que eles também receberam altos investimentos, e que o caminho não foi tão fácil de ser trilhado. É bom lembrar também, que mesmo com um título de Unicórnio, eles não estão longe de problemas, e que o trabalho para se manter grande e relevante é constante.
Ensinamentos do Unicórnio
O que você pode tirar das histórias de Startups Unicórnio é a questão do aperfeiçoamento de serviços, por exemplo. A Uber aperfeiçoou algo que já existia, trouxe praticidade e tornou mais acessível a questão do transporte doméstico.
Ela não se caracteriza como uma empresa de transporte, e sim de tecnologia, devido aos seus constantes investimentos em ativos tecnológicos e a busca por inovação. Por isso, o que mais observamos na história de Startups Unicórnio, é a busca por adaptação ou criação de serviços coerentes com o século XXI, ou seja, que trazem praticidade e facilidade aos seus clientes.
Um exemplo disso é o Nubank, um dos unicórnios brasileiros, que buscou facilitar a relação na qual os bancos tinham com os seus clientes no país. A dificuldade para abrir uma conta e fazer serviços bancários, se tornou uma oportunidade, que o empreendedor, David Vélez, soube aproveitar muito bem.
No ano passado (2018), o Nubank foi avaliado em US$ 1 bilhão, se tornando o terceiro Unicórnio brasileiro. E o interessante é perceber que a ideia por trás dessa Startup, está ligada com um problema amplo, que atinge um grande mercado, no qual a maioria das pessoas são obrigadas a se conectar.
Então, o que deveríamos levar como ensinamento de uma Startup Unicórnio, é a busca para oferecer um serviço de excelência, que gere valor ao seu cliente. Além disso, devemos saber aproveitar as oportunidades que são geradas no mercado, buscando os investimentos certos, as parcerias certas, para elevar seus resultados.
Isso não é garantia de que a sua empresa venha a valer US$ 1 bilhão, mas é garantia de que você irá criar clientes fiéis, e conseguirá entregar um serviço de qualidade e de referência. Coisas que devem ser muito mais buscadas, do que se tornar um Unicórnio.
Lado Negro da Lua
Até este ponto do texto eu quis tratar todas as questões de especulação, da dificuldade de calcular o valor dessas empresas e também da competência dos empreendedores que conseguiram alcançar tamanho sucesso. Nada vem por acaso e a simplificação do sucesso é um assunto que tratamos recorrentemente aqui nos nossos conteúdos.
Uma questão que é um problema e que acabamos vendo com muita frequência em quem quer iniciar empreendendo digitalmente é justamente a ideia de que pra construir empresas tão grandes, é possível gastar poucos recursos, sejam eles financeiros, de tempo ou de oportunidade.
É possível construir um MVP gastando muito pouco? Talvez sim, dependendo do ramo de atuação. É possível construir uma Startup Unicórnio gastando 10, 20 ou 30 mil reais? É claro que não.
Em um momento do empreendedorismo que mais se fala em investir na construção de equipes, investir em pessoas e processos, achar que é possível construir algo tão grandioso, com tamanho impacto, gastando tão pouco, soa como os bordões repetidos por charlatães e empreendedores de palco.
Outro fator que não combina com o sucesso dessas empresas é o escopo fechado e prazo definido. Como é possível ser tão grande, se adaptar a tantas variáveis e ao mesmo tempo travar o desenvolvimento tecnológico e estratégico com uma visão estática e idealizada do cenário da empresa?
Considerando que os fundadores e estrategistas fizeram o dever de casa, analisaram o mercado e tudo mais, todo profissional experiente sabe que aquela visão cristalizada do mercado é uma versão que rapidamente ficará desatualizada. E não estamos falando de anos e sim de meses ou semanas.

Minha ideia é tão boa, mas nem eu invisto nela
Essa é realidade de muitas pessoas. Acham que suas ideias são transformadoras, que são ideias Unicórnio (sim, é comum ouvir isso hoje em dia). Infelizmente essas pessoas são incapazes de investir metade de seu orçamento mensal nessa ideia, suas economias de anos ou abandonar um emprego para se dedicar a ela.
Claro que investir todos ganhos de uma vida não deve ser feito de forma leviana. Mas vejamos bem, se algo é tão bom, por que não colocar a pele no jogo e fazer acontecer?
Levanto essas questões como ponto de reflexão. O empreendedorismo não é para todos e inclusive medimos isso no nosso processo comercial aqui na GoBacklog. Dizer não para possíveis clientes é importante para preservar a própria empresa e também os possíveis clientes.
Navios grandes, como o Titanic e outros, já afundaram e vão continuar afundando (Deus queira que com menos vítimas). Mas eles tinham um plano, tinham pessoas competentes no timão, comandando uma equipe preparada. Essas pessoas falharam, provavelmente falharam várias vezes até que o navio afundasse. Mas note que quando alguém quer fazer uma travessia de aventura, ele faz sozinho (ou em pequena equipe) e não com 1000 pessoas a bordo.
Em outras palavras, evite aventuras para as quais você não esteja preparado ou que não esteja confiante do resultado dela. Você vai acabar se machucando e trazendo problemas pra você ou para quem investiu em você. E se alguma vez você disse que sua ideia é Unicórnio, se pergunte mesmo se ela é. Se ela realmente for, apostar tudo nela não será um problema.
Conclusão
A verdade é que, os empreendedores que criam sua empresa pensando em se tornarem um Unicórnio, já começam com a visão errada. Você pode querer que a sua ideia se expanda e se torne grande, mas o seu principal objetivo não deve ser esse.
Se tornar um Unicórnio é a consequência de um trabalho de excelência e da combinação de outras diversas variáveis favoráveis ao seu negócio. Dentro da Economia, costumamos dizer que a palavra que mais descreve o mercado é “depende”, pois ele é incerto, e muitas coisas podem influenciar e mudar o rumo de empresas, por exemplo.
Por isso, não se preocupe em seguir um passo a passo para transformar a sua empresa em um Unicórnio, mas foque em dar o seu melhor e buscar com que o seu serviço entregue valor ao seu cliente. Pois empreender é isso, buscar transformar a vida das pessoas através daquilo que você pode oferecer de melhor.