Saber se uma tecnologia fará ou não sucesso não é uma coisa que se pode adivinhar. É preciso levar em conta o período de mercado em que ela está sendo inserida, como também sua usabilidade diante de tantas outras tecnologias que vão surgindo a todo momento.

Em mais um episódio da série Conversando com o C-Level, o nosso CTO, William Oliveira, fala sobre o tempo de vida útil de diversas tecnologias que adentram diante das mudanças existentes no mercado.

Você tinha aceitação do seu código de dentro da base do projeto e você via outras pessoas utilizando o que você fez ao redor do mundo, então isso é muito gratificante. Você consegue entrar em um projeto e contribuir. Acho que é uma experiência única e todo mundo na área deveria tentar.

Uma tecnologia tem um tempo de vida útil?

As tecnologias não tem um tempo de vida útil. Existem na verdade períodos em que elas são lançadas e a adoção é maior, tendo pessoas que se interessam por elas. Principalmente se for algo novo e diferente, ou até mesmo algo que vá trazer muito mais produtividade, nesses casos, essas são ferramentas que as pessoas realmente vão aderir em grande escala.

Existe o período em que as pessoas estão em um ritmo em que determinada tecnologia é lançada, mas certo tempo depois acabam surgindo outras novas tecnologias. E nesse mundo em que as coisas mudam e se renovam muito rápido e o tempo todo, quando outra tecnologia é lançada, a tendência é que a antiga perca um pouco de mercado.

Mas mesmo perdendo um pouco desse mercado, existem as comunidades onde sempre existem pessoas ativas, principalmente em projetos open source, onde existe um ecossistema de pessoas que vão ter várias ferramentas e vão estar ativas nessa comunidade, ajudando a manter o projeto.

Tudo isso mesmo quando o criador se ausenta deste projeto, algumas pessoas envolvidas continuam a trabalhar nele, e não deixam ele morrer de fato.

As tecnologias têm um ápice. Como elas continuam relevantes após a passagem deste momento?

Como eu disse anteriormente, existem pessoas que são ativas na comunidade, então a forma dessas tecnologias continuarem relevantes são as pessoas que também continuam as mantendo. Os contribuidores, os próprios donos do projetos que vai continuar ativo, respondendo às perguntas e ajudando a resolver os problemas. E ele tem um filosofia por trás.

Sempre que é lançado o projeto com um objetivo final, seja ele ajudar as pessoas numa tarefa específica, ou realmente ser uma multiproposta. Então existe um objetivo com essa tecnologia e essas pessoas seguem essa filosofia e dão continuidade ao trabalho desse criador, e geralmente é assim que as tecnologias se mantém, principalmente no âmbito do open source, isso é muito comum.

Eu tenho alguns projetos que eu mesmo criei no passado e que hoje eu não consigo manter, mas existem comunidades ativas por trás desse projeto e que continuam adicionando informações e contribuindo para ele, mesmo com a minha ausência.

Existe algum padrão de sucesso para essas tecnologias? é Possível prever que elas farão sucesso?

Não me arrisco a dizer que prever é possível. Existem fatores para julgar se a tecnologia vai ter uma adoção ou uma vida mais longa de acordo com alguns padrões, por exemplo: se ele é bem construindo, ou se ele usa padrões de mercado para ser desenvolvidos códigos, se as pessoas que estão envolvidas nesse projeto possuem históricos de outros projetos que deram certo.

Mas mesmo com alguns fatores que contribuem, ainda sim é muito difícil afirmar o seu sucesso. O que se pode fazer é ver a situação atual do mercado e as necessidades que ele está enfrentando.

Por exemplo, você tem alguns projetos que precisam só de uma coisa específica, e uma empresa ou uma pessoa lança um projeto para resolver essa dor, e provavelmente isso tem futuro, você pode então investir tempo.

Às vezes é algo inovador que você pode dizer “isso realmente chamou minha atenção”. E quando você investe tempo e aposta naquela tecnologia, ela pode ir para frente. Por isso são essas coisas que eu uso pessoalmente para julgar se o projeto vai pra frente e se eu devo investir meu tempo ou não com ele.

Diante destas mudanças de mercado, o que o profissional de tecnologia deve fazer para se manter atualizado?

A primeira coisa é estudar. Não tem como fugir disso. Estudar e se dedicar, assim como todas as outras áreas no mundo, acredito que quase todas hoje, porque as coisas mudam o tempo todo e você precisa estar sempre atualizado e acompanhando esse ritmo.

Esse é um hábito que todo profissional de tecnologia acaba criando consequentemente. Ele precisa consumir artigos e conteúdos relevantes sobre a área, procurar cursos, livros, todo tipo de material que vai ajudar ele a conseguir se manter atualizado. Porém, eu acredito que o mais importante é você ter a base de alguma coisa.

Se você estuda, por exemplo, tecnologia Javascript, e estuda tecnologias que estão ativas no mercado como React.js, Vue.js, Angular, Next.js, entre várias tecnologias que estão na ativa, e você tem a base sólida em Javascript que é a linguagem em que elas são criadas, você vai estar sempre um passo a frente.

Isso porque você já sabe todas as técnicas da linguagem, sabe todas as bases e está preparado para consumir todo aquele conteúdo. A tecnologia sempre introduz um conceito diferente para você trabalhar, mas a base dela sempre é a mesma. A base é mudada gradualmente.

O Javascript como eu citei no exemplo, tem uma ECMAscript que é a especificação da linguagem, é o que acontece primeiro, então se tem um board de pessoas, onde elas decidem o futuro da linguagem, baseado no feedbacks das comunidades e etc.

Antes de chegar no Javascript, essas mudanças que você já sabe que vão ser implementadas, acabam te dando um tempo para que elas sejam estudadas e atualizadas, por isso é importante sempre manter o radar focado nisso.

Teve alguma tecnologia que você se empolgou e estudou, mas ela não foi para frente? O que aprendeu com isso?

Há algum tempo atrás houve uma tecnologia que começou a surgir e a ideia dela era muito interessante, ela se chamava Yeoman, ela é um projeto open source da Google, e a proposta era ela ser uma plataforma multifunção.

Na época existiam tecnologias que estavam ascendendo, como a React, Vue, Angular, que eu já citei, e tinha ainda a Backbone.js, que é um pouco mais antiga, e que existia uma crença muito grande na organização desses projetos, como quais seriam os padrões de arquitetura de organização de estrutura que iriam ser utilizados.

Então o Yeoman tinha a proposta de ajudar a resolver isso, ele criava as estruturas básicas que a gente chama de bootstrap, e essas estruturas serviam para o seu projeto.

Mas eles acabaram descobrindo que era difícil resolver o problema de todo mundo, então o projeto começou a ficar de uma maneira complicada, e as pessoas não o adotaram, porque cada um queria seguir seu próprio método e padrões, então houve muito conflitos de interesses.

Mas foi um projeto que eu gostei muito de participar, eu consegui trabalhar com pessoas muito inteligentes, como o Addy Osmani e Paul Irish, pessoas que até hoje compõem o time da Google Chrome.

E foi onde eu tive a oportunidade de trabalhar e ter feedbacks dos meus códigos, do meu trabalho, fazer um networking e saber como eles estruturam as coisas dentro de grandes empresas. Além de outras pessoas que participaram também e hoje estão no Paypal e outras empresas.

E foi uma experiência incrível, apesar de hoje a tecnologia ainda existir, mas ter caído em um desuso muito grande, tudo o que eu aprendi no decorrer dessa trajetória eu levo até hoje. Todos os feedbacks e as técnicas que eles utilizavam e eu absorvi, trouxe comigo para a minha carreira.

Então eu julgo que não existe um projeto ou uma tecnologia que você vai estudar e dedicar tempo que não vá valer de nada, sempre dá pra tirar muitas lições. Seja estudar a base de como aquilo foi construído, a filosofia por trás, como era o pensamento por trás da pessoa que criou, tudo vai se converter em uma experiência muito grande e gratificante também.

Eu lembro quando eu mandava códigos em pull requests, uma forma criada para contribuir para os projetos no GitHub, que era uma plataforma que o Yeoman estava inserido.

Nele você tinha aceitação do seu código de dentro da base do projeto e era possível ver outras pessoas utilizando o que você fez ao redor do mundo e isso é muito gratificante. Você conseguir entrar em um projeto e contribuir, acho que é uma experiência única e todo mundo que está na área deveria tentar.

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Daniel Antunes

Fundador e CEO da GoBacklog, uma empresa especializada no desenvolvimento de soluções digitais que vem mudando a forma de se criar negócios de sucesso com base em tecnologia, inovação e inteligência. Acumula mais de 13 anos de experiência no mercado digital, projetos, novos negócios e vendas B2B.